22 de jul. de 2009

Minha Estréia

"Até uma jornada de mil milhas começa com o primeiro passo."


(Provérbio Chinês)

E assim começo meu blog!


Fiquei pensando sobre o que poderia começar a escrever e depois de ter tido algumas idéias que foram devidamente descartadas pois queria inaugurar em "grande estilo", lembrei-me de um texto que já viaja a décadas pelo mundo inteiro e que já foi traduzido para dezenas de línguas, passando por países tão diversamente culturais como a China, URSS, Itália, EUA e lógico, nosso Brasil... Pesquisei na Internet e ei-lo aqui.


É uma história linda, encantada, que apesar de datar do início do século passado, ainda carrega em si verdades tão contemporâneas. Espero, sinceramente, que ela mude seu modo de agir e de pensar pois é isso que um texto ou um livro devem fazer: mudar nosso modo de ver a vida, abrir nossos olhos, alimentar-nos com gotas de sabedoria...


Leia e mande sua opinião. Convido você a dar nosso primeiro passo para essa longa jornada juntos.


Mensagem A Garcia

Em todo este caso cubano um homem se destaca no horizonte de minha memória.


Quando irrompeu a guerra entre a Espanha e os EUA, o que importava a estes era comunicar-se com o chefe dos insurretos, Garcia, que sabiam se encontrar em alguma fortaleza no interior do sertão cubano, mas sem que se pudesse dizer exatamente onde.


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Era impossível um entendimento com ele pelo correio ou pelo telégrafo. No entanto, o Presidente precisava-lhe da colaboração o mais rapidamente possível. Que fazer?


Alguém lembrou:


- Há um homem chamado Rowan, e se alguma pessoa é capaz de encontrar Garcia, há de ser Rowan.


Rowan foi trazido à presença do Presidente, que lhe confiou uma carta com a incumbência de entregá-la a Garcia.


De como Rowan tomou a carta, meteu-a num invólucro impermeável, amarrou-a ao peito, e após quatro dias saltou de um barco sem sequer uma cobertura, alta noite, nas costas de Cuba; de como se embrenhou no sertão para depois de três semanas surgir do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil e entregue a carta a Garcia, são coisas que não vem ao caso narrar aqui pormenorizadamente.


O ponto que desejo frisar é este: MacKinley, o Presidente, deu a Rowan uma carta para ser entregue a Garcia. Rowan tomou a carta e nem sequer perguntou onde Garcia estava: entregou-a.


Salve! Eis aí um homem cujo busto merecia ser fundido em bronze e sua estátua colocada em cada escola.


Não é somente de sabedoria livresca que a juventude precisa, nem somente de instrução sobre isto ou aquilo: precisa sim de um endurecimento das vértebras, para poder mostrar-se altiva no exercício de um cargo; para atuar com diligência, para dar conta do recado; para, em suma, levar uma mensagem a Garcia.


A nenhum homem que se tenha empenhado em levar avante uma grande tarefa em que a ajuda de muitos se torna necessária, têm sido poupados momentos de verdadeiro desespero ante a imbecilidade de um grande número de homens, ante a inabilidade ou a falta de disposição de concentrar a mente numa determinada coisa e fazê-la.


A regra geral tem sido: assistência irregular, desatenção tola, indiferença irritante e trabalho mal feito.


Ninguém pode ser verdadeiramente bem sucedido, salvo se lançar mão de todos os meios ao seu alcance para fazer com que outros homens o auxiliem, a não ser que Deus, na sua grande misericórdia, faça um milagre, enviando-lhe como auxiliar um anjo de luz.


Você mesmo podes tirar a prova. Chame um dos seus empregados e peça:


- Queira ter a bondade de consultar a enciclopédia e fazer uma descrição resumida de corrégio.


Dar-se-á o caso de o empregado dizer calmamente: sim senhor, e executar o que pediste?


Nada disso! Olhar-te-á admirado para fazer uma ou algumas das seguintes perguntas:


- Quem é ele?


- Que enciclopédia?


- Onde é que está a enciclopédia?


- Fui eu acaso contratado para fazer isso?


- E se o Carlos o fizesse?


- Já morreu?


- Precisa disso com urgência?


- Não quer que traga o livro para que o senhor mesmo procure?


- Para que quer saber disso?


E aposto dez contra um que, depois de teres respondido tais perguntas, explicando a maneira de procurar os dados pedidos e a razão por que deles precisas, teu empregado irá pedir a um companheiro que o ajude a encontrar Corrégio, e depois voltará para te dizer que tal homem não existe.


Evidentemente pode ser que eu perca a aposta, mas segundo a regra e a conduta geral, aposto que não.


A dificuldade de expediente, a incapacidade moral, a fraqueza de vontade, a falta de disposição de se pôr em campo e agir, são causas que impedem o advento do socialismo puro. Se o homem não toma a iniciativa de agir em seu próprio proveito, nada fará se o resultado do seu esforço redundar em benefício de todos. Por enquanto parece que o homem ainda precisa ser dirigido.


O que mantém muito empregado no seu posto e o faz trabalhar é o medo de, se não o fizer, ser despedido no fim do mês.


Anuncie precisar de um taquígrafo: nove entre dez candidatos à vaga não saberão ortografar nem pontuar e, o que é mais grave, pensam não ser necessário sabê-lo.


Poderão pessoas assim entregarem uma carta para Garcia?


- Vê aquele guarda-livros. Dizia-me o chefe de uma grande fábrica.


- Sim, o que tem?


- É um excelente guarda-livros. Contudo, se eu o mandasse dar um recado, talvez se desobrigasse da incumbência a contento, mas, podia ser que no caminho entrasse em duas ou três casas de bebidas e, quando chegasse ao seu destino, já não se recordasse sequer da tarefa que lhe fora dada.


Será possível confiar-se a tal homem uma carta para ser entregue a Garcia?


Ultimamente temos ouvido expressões sentimentais, demonstrando simpatia para com os pobres entes que lutam de sol a sol, para com os infelizes desempregados à cata do trabalho honesto, e tudo isso, quase sempre, entremeado de muita palavra dura para com os homens que estão no poder.


Nada se diz do patrão que envelhece antes do tempo, num esforço inútil para induzir eternos desgostosos e descontentes a trabalharem conscienciosamente. Nada se diz de sua longa e paciente procura de pessoas, que, muitas vezes, nada mais fazem do que matar o tempo logo que ele volta às costas.


Não há empresa que não esteja despedindo pessoal que se mostre incapaz de zelar pelos seus próprios interesses, a fim de substituí-lo por outro mais apto. Este processo de seleção está se operando incessantemente e, quando os tempos são maus e o trabalho escasseia, a seleção se faz mais meticulosa, pondo-se fora, para sempre, os incompetentes e os inaproveitáveis.


É a lei da sobrevivência do mais capacitado. Cada patrão, no interesse comum, trata somente de guardar os melhores. Aqueles que podem levar a "Mensagem a Garcia".


Conheci um homem de aptidões brilhantes, mas sem a fibra necessária para dirigir um negócio próprio, e que ainda se tornou completamente nulo para o patrão, devido a suspeita que constantemente abrigava de que estava sendo explorado: sem poder mandar em alguém, não tolerava que alguém mandasse nele. Se lhe fosse confiada uma mensagem a Garcia, retrucaria, provavelmente: leve-a você mesmo.


Hoje esse homem perambula pelas ruas em busca de trabalho, em estado quase de miséria. Ninguém que o conhece se aventura a lhe dar trabalho, porque é a personificação do descontentamento e do espírito de discórdia.


Sei, não resta dúvida, que um indivíduo moralmente aleijado como este não é menos digno de compaixão, mas, vertamos também uma lágrima pelos homens que se esforçam por levar avante uma grande empresa, cujas horas de trabalho não estão limitadas pelo som do apito e cujos cabelos ficam muito cedo envelhecidos na incessante luta em que estão empenhados contra a indiferença desdenhosa, contra a imbecilidade crassa e a ingratidão atroz, justamente daqueles que sem seu espírito empreendedor, poderiam andar famintos e sem lar.


Dar-se-á o caso de eu ter pintado a situação em cores demasiado carregadas?


Pode ser que sim; mas quando todo mundo se prende a divagações, quero lançar uma palavra de simpatia ao homem que dá êxito a um empreendimento, ao homem que, a despeito de uma porção de empecilhos, sabe dirigir e coordenar os esforços de outros e que, após o triunfo, talvez verifique que nada ganhou. Nada, salvo a sua simples subsistência.


Carreguei marmitas e trabalhei como jardineiro, como também já fui patrão. Sei, portanto, que alguma coisa se pode dizer de ambos os lados.


Não há excelência na pobreza em si mesma; farrapos não servem de recomendação.


Nem todos o patrões são gananciosos e tiranos, da mesma forma que nem todos os pobres são virtuosos.


Todas as minhas simpatias pertencem ao homem que trabalha quer o patrão esteja, quer não, e ao homem que, ao lhe ser confiada uma carta para Garcia, tranqüilamente toma a missiva, sem fazer perguntas idiotas, sem a intenção oculta de jogá-la na primeira sarjeta que encontrar, ou praticar qualquer outro gesto que não seja entregá-la ao destinatário.


Este homem nunca fica encostado, nem tem que se declarar em greve para forçar um aumento de ordenado.


A civilização busca ansiosa por homens nestas condições. Tudo que tal homem pedir conceder-se-á. Precisa-se dele em cada cidade, em cada vila, em cada lugarejo, em cada escritório, em cada oficina, em cada loja, fábrica ou venda.


O grito do mundo inteiro, praticamente, se resume nisso:

"Precisa-se e precisa-se com urgência, de um homem capaz de levar uma mensagem a Garcia".




Notas do autor:


Esta insignificância literária, Mensagem a Garcia, escrevi-a, em uma hora, para o número de março da nossa revista, Philistine, numa noite depois do jantar, em 22 de fevereiro de 1899, aniversário de George Washington.


Encontrava-me com disposição para escrever. O artigo brotou espontâneo do meu coração, redigido depois de um dia afanoso, durante o qual eu tinha procurado convencer alguns moradores um tanto renitentes do lugar, de que deviam sair do estado comatoso em que se encontravam, esforçando-me por incutir-lhes radioatividade.


A idéia original veio-me de um pequeno argumento ventilado pelo meu filho Bert, quando ele procurou sustentar ser Rowan o verdadeiro herói da Guerra de Cuba. Rowan pôs-se a caminho só e deu conta do recado: levou a mensagem a Garcia.


Como uma centelha luminosa, a idéia se assenhorou da minha mente. É verdade - disse comigo mesmo - o rapaz tem toda a razão, o herói é aquele que dá conta do recado: que leva a mensagem a Garcia!


Levantei-me da mesa e escrevi "Mensagem a Garcia" de uma assentada. Liguei tão pouca importância ao artigo que o publiquei sem título na revista.


Pouco depois de a edição ter saído do prelo, começaram a afluir pedidos para exemplares adicionais: uma dúzia, cinqüenta, cem. Quando a American News Company encomendou mais de mil exemplares, perguntei a um dos meus empregados qual o artigo que havia levantado o pó cósmico.


- Esse do Garcia -, retrucou-me ele.


No dia seguinte chegou um telegrama de George H. Daniels, da Estrada de Ferro Central de Nova York, pedindo o preço para cem mil exemplares do artigo sob forma de folheto, com anúncios da estrada de ferro no verso. Pedia também que indicasse o prazo de entrega.


Respondi indicando o preço, e acrescentando que podia entregar os folhetos dali a dois anos. Dispúnhamos de facilidades restritas e cem mil folhetos afigurava-se um empreendimento de monta.


O resultado foi que autorizei o Sr. Daniels a reproduzir o artigo conforme lhe aprouvesse. Fê-lo em forma de folhetos e distribuiu-os em tal profusão que duas ou três edições de meio milhão se esgotaram rapidamente. Além disso, o artigo foi reproduzido em mais de duzentas revistas e jornais e tem sido traduzido, por assim dizer, em todas as línguas faladas.


Quando o Sr. Daniels estava fazendo a distribuição da "Mensagem a Garcia", o príncipe Hilakoff, diretor das Estradas de Ferro Russas, encontrava-se nos EUA: era hóspede da Estrada de Ferro Central de Nova York, percorrendo o país em companhia do Sr. Daniels.


O príncipe viu o folheto e por ele se interessou. Mais pelo fato de ser o próprio Sr. Daniels que o estava distribuindo em tão grande quantidade, que qualquer outro motivo.


Quando o príncipe regressou a sua pátria mandou traduzir o folheto para o russo e entregar um exemplar a cada empregado da Estrada de Ferro da Rússia. Em pouco tempo foi imitado por outros países: da Rússia o artigo passou para a Alemanha, França, Turquia, Indostão e China.


Durante a guerra entre a Rússia e o Japão, foi entregue um exemplar de "Mensagem a Garcia" a cada soldado russo que se destinava ao "front".


Os japoneses, ao encontrarem os livrinhos em poder dos prisioneiros russos, chegaram à conclusão que havia de ser uma informação valiosa e não tardaram em vertê-lo para o japonês. Por ordem do Micado foi distribuído um exemplar a cada empregado civil ou militar, do governo japonês.


Mais de cem milhões de exemplares foram impressos, o que é sem dúvida a maior circulação jamais atingida por qualquer trabalho literário durante a vida do autor, graças a uma série de circunstâncias felizes.


East Aurora, 01 de dezembro de 1913


Helbert Hubbard
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