Sou uma pessoa muito emotiva quando se trata de natureza.
A tal ponto de não suportar ver quando alguém está cortando uma árvore, principalmente aquelas saudáveis, imensas, centenárias.
Às vezes são pessoas comuns, que querem arrancar a árvore porque deseja asfaltar o quintal, ou porque quer estacionar o carro na calçada em frente da sua casa, ou por qualquer outra razão estúpida.
Dói ver a árvore sendo jogada aos pedaços, com troncos repletos de folhas verdes. Tenho a impressão que estou ouvindo os gritos de dor daquele ser vegetal.
E o homem, esse grande animal predador, vai destruindo-a, torturando-a, de pedaço em pedaço, até chegar à sua raiz, aniquilando-a totalmente.
Lembro-me uma vez em que fui abraçada por uma árvore, no Campo de Santana, e me sentí tão renovada, tão revigorada, que nunca mais me esquecí.
Eu estava sentada num dos bancos de madeira, pensando na vida, num daqueles momentos deprê, quando de repente um vento balançou um dos galhos, cheinho de folhas, e o trouxe até mim, envolvendo-me como em um abraço. Foi emocionante...
Desculpem-me se estou sendo trágica, dramática, desequilibrada, ou outro adjetivo que queiram me presentear, mas não consigo entender essas pessoas.
Às vezes assistia os funcionários da Comlurb (limpeza urbana do município do RJ) realizando esse trabalho e acreditei que, nesses casos, a árvore estava sendo prejudicial em algum aspecto da vida humana, embora não conseguisse entender a razão.
Eis que me deparei com um artigo publicado em uma das edições da Revista do Crea-RJ, muito bem escrito pela Engenheira Florestal Denise Baptista Alves, sob o título "Por uma cidade com árvores", cujo teor transcrevo abaixo em forma de colcha de retalhos, pois do contrário, me estenderia ainda mais:
"A arborização de ruas representa fator indispensável à qualidade de vida nos centros urbanos. As árvores, por suas múltiplas funções, atuam diretamente sobre o complexo organismo que constitui a cidade: suas folhas absorvem compostos carbônicos, fixando poeiras e sólidos em suspensão. Suas copas oferecem sombra, amenizam o microclima e absorvem ruídos; seus troncos, galhos, flores e frutos abrigam e alimentam a fauna, de um modo especial as aves. Além disso, o valor estético da arborização equilibra as paisagens das áreas urbanas densamente construídas.(...)Neste sentido, a despeito de sua importância, a arborização no inconsciente do homem urbano, às vezes, representa considerável obstáculo ao desenvolvimento ou elemento de incentivo à segurança. O que se pode observar é que os projetos urbanísticos, de um modo geral, não dão à árvore a importância devida, ato que pode ser comprovado tanto pelo pequeno espaço reservado ao desenvolvimento pleno do vegetal, quanto por sua constante desvalorização ante outros equipamentos urbanos, como redes aéreas, de esgoto e iluminação.(...)Hoje, na cidade do Rio de Janeiro, cabe à Comlurb incluir em suas atividades essas duas tarefas que são a poda e a remoção de árvore em toda a cidade. Acontece que a normatização, planejamento da arborização e o plantio permaneceram com a Fundação Parques e Jardins. Dessa forma parece que os órgãos não se falam, comprometendo a união das ações (...). Basta olhar ao redor e ver a poda danosa, retirada e/ou a permanência de árvores sem critério nem prioridades definida. Isso é resultado, entre outras causas, da falta de acompanhamento de profissional habilitado (...). Da mesma forma as concessionárias de serviços públicos associadas aos serviços das redes de transmissão e iluminação urbana não contemplam em seus quadros, profissionais habilitados para o acompanhamento dos serviços de poda de árvores, promovendo um verdadeiro caos na condução destes serviços que deveriam ser vistoriados pelos órgãos públicos estaduais e municipais.Denise Baptista AlvesEngenheira FlorestalVice-presidente da Apefer"(grifo meu)
E assim vamos caminhando, nesta selva de concreto, cimento, carros de passeio, ônibus e caminhões, respirando gás carbônico, sob um sol inclemente, em direção ao futuro...
Com a palavra, a Comlurb.
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